Qual a principal vantagem em se trabalhar por meio de projetos
educacionais?
Impossível
pensar o processo de ensino-aprendizagem sem múltiplas interações. O ensino
formal, em que o aluno não participa e não interage em seu processo de
construção do conhecimento, é algo mais do que questionável atualmente. Dessa
forma, podemos citar, dentre várias vantagens dos projetos, a mais importante,
que é a troca da passividade do aluno pela interação. Os projetos, com certeza,
parecem supriressa necessidade de fazer com que o aluno rompa com sua
passividade e interaja de diferentes maneiras em todas as etapas de sua
execução.
Qual a relação entre projetos e temas transversais?
Embora isso
não seja uma regra, os projetos, na prática, têm ocorrido em um determinado
período letivo. Por exemplo: no primeiro bimestre ou no segundo semestre, etc.
Dessa forma, um projeto temático não vai contemplar necessariamente o ano
letivo inteiro. Quando nos referimos aos temas transversais, esperamos que, na
prática, esse tema seja abordado, se possível, durante todo o ano letivo e por
todos os professores.
Espera-se que
essa abordagem seja realizada pelos professores de forma sutil, incorporada ao
seu conteúdo. Não podemos imaginar um tema transversal sendo tratado como um
"caroço", ou seja, no meio do conteúdo, o professor dá uma parada,
trata do tema transversal e depois volta a falar de seu conteúdo novamente, sem
estabelecer nenhum tipo de relação. Fazendo uma metáfora, podemos imaginar uma
disciplina como um bolo em que os conteúdos são seus ingredientes: a farinha,
os ovos, etc. não aparecem isoladamente, mas sim na composição da massa.
Imagine agora comer um bolo e encontrar um "caroço" de farinha! O
tema transversal tratado de forma isolada do conteúdo tem essa mesma
característica do "caroço" de farinha. Juntando essas situações,
poderíamos questionar: é possível trabalhar os temas transversais
com projetos?
E a resposta seria sim, desde que contemplássemos as questões da forma
(projeto) com a necessidade de abordagem (transversal).
Existem regras básicas que devem fazer parte de qualquer projeto,
independentemente do tema
tratado?
Acredito que
sim. De certa forma, nossos alunos ainda não estão acostumados com a autonomia,
e, nos projetos, precisamos trabalhar com essa questão. Se não estabelecermos
como primeira regra contar aos nossos alunos o que é um projeto e como se
trabalha com o ato de projetar, eles terão a sensação de que estão
"perdidos", pois não existe, no projeto, o professor dirigindo e
ditando as tarefas, as atividades, a cor da caneta, a forma da maquete, o tipo
de cartaz, etc. Entendido primeiramente o que é um projeto e qual o seu papel
dentro dessa dinâmica, as regras seguintes são aquelas relacionadas às etapas
de um projeto, que são norteadoras para seu planejamento, execução, depuração,
apresentação e avaliação.
A interdisciplinaridade ou a multidisciplinaridade é um requisito
essencial de qualquer projeto?
Seria se todos
os projetos fossem interdisciplinares. Na prática, um projeto pode iniciar com
apenas um professor de uma única disciplina tratando de um determinado conteúdo
programático. No decorrer do projeto, conforme interesses e necessidades,
outros professores e outras disciplinas podem interagir com o projeto em
questão e, dependendo da forma, a multi ou a interdisciplinaridade poderão
acontecer espontaneamente. De nada adianta a escola estabelecer como tema único
para todas as séries e professores que o projeto desse bimestre será
"Brasil 500 Anos" (ainda bem que já acabou esse modismo); um tema
único de um projeto para toda escola não garantirá necessariamente a prática da
interdisciplinaridade. Já presenciei inúmeros projetos que iniciaram em uma
única disciplina e depois abrangeram outras, por necessidade e interesse de
alunos e professores, assim como projetos de temas únicos em escolas que
pretendiam praticar a interdisciplinaridade e, no final, cada professor
trabalhou tema
de forma
isolada.
Que conselhos o senhor daria ao professor que resiste a trabalhar com
projetos e a quem está
aderindo a esse trabalho pela primeira vez?
Não imaginar
que o projeto é mais uma atividade que ele vai ter de fazer como tantas outras
e que a escola está arrumando mais serviço para ele. No projeto, o professor
não terá mais serviço, pois quem na realidade deve interagir e trabalhar são os
alunos. O professor simplesmente deverá orquestrar essa atividade, mediando e
facilitando suas etapas. Àquele professor que resiste a trabalhar com projeto,
achando que terá mais serviço, eu aconselho estudar um pouco mais sobre o que é
realmente um projeto, pois só assim perceberá que não é essa a proposta. Muitos
resistem por causa dos conteúdos. Aconselho, nesses casos, que pensem então em
trabalhar os conteúdos com projetos ou projetos dos conteúdos. Particularmente,
acho que a resistência maior está no desconhecido e também na necessidade de
ser mais flexível, já que é impossível trabalhar com projetos de forma rígida e
inflexível. Num projeto, estamos abertos a tudo, poisprojetar é uma referência
ao futuro, que, em muitos casos, ainda é desconhecido.
Que atitude (ou mudança de atitude) o professor deve ter ao assumir um
projeto?
Ele deve
simplesmente ser mediador e facilitador de todas as etapas de um projeto. Nessa
dinâmica, ele não dita regras nem conteúdos, mas, sim, orquestra a projeção de
seus alunos.
Como encaixar
o trabalho com projetos no cronograma apertado e no currículo rígido das
escolas?
É difícil
resolver essa questão, mas não impossível. Então, resta-nos questionar a forma
de trabalho com esses conteúdos, bem como a real necessidade de alguns tópicos
desses. De nada adianta ter um conteúdo programático "apertado" e o
aluno aprender pouco de muito, ao passo que poderia aprender muito de pouco.
Questiono particularmente não os conteúdos, mas, sim, a forma como são
tratados. Tomando como referência os PCNs, verificamos que os conteúdos devem
ser trabalhados de forma conceitual, procedimental e atitudinal. Na prática, o
professor domina bem a forma de ministrar seus conteúdos conceitualmente. Mas
como está trabalhando estes de forma procedimental e atitudinal? Uma boa saída
para esses casos são os projetos, já que, ao projetar, os alunos demonstram atitudes
e, ao executá-lo, trabalham
com
procedimentos.
Na sua opinião, a Internet pode ajudar a execução de projetos? Como?
Pode e muito.
Da mesma forma que trabalhamos com projetos em um espaço real de aprendizagem,
também podemos trabalhar em um espaço virtual (ciberespaço) de aprendizagem. Os
mesmos projetos que realizavam atividades em papel, isopor, cartolina,
utilizando tintas, encenações, entrevistas gravadas em vídeo, etc., podem ser
trabalhados com produção de documentos na Web. A diferença é que a apresentação
final não necessariamente ocorrerá no espaço real (da escola), mas sim no
ciberespaço, por meio de sites e home pages. Acho que a Internet não está sendo
utilizada em todo o seu potencial. Muitos ainda a encaram
como fonte de
pesquisa e coleta de informações, esquecendo-se do rico arsenal de ferramentas
de comunicação que podem propiciar um trabalho cooperativo. Dessa forma, os
projetos podem ser trabalhados além das paredes da escola e por grupos
distintos de diferentes regiões. Lentamente, as coisas estão caminhando para um
trabalho no ciberespaço e conseqüentemente, na colaboração da construção de uma
inteligência coletiva. Percebe-se a preocupação de muitos professores em
desvendar esses novos "mistérios". Particularmente, tenho presenciado
isso em uma das disciplinas (Internet Pedagógica) que leciono num curso de
pós-graduação.
É válido que o professor recorra a projetos sugeridos em revistas ou
sites, adaptando-os à realidade
dos alunos, mesmo que ele tenha dúvidas sobre como criar projetos
próprios?
Não acredito
que modelos copiados surtam efeito de projetos, mas, sim, de atividades e
tarefas solicitadas aos alunos. Para o professor que nunca trabalhou com
projeto, admito até a possibilidade de copiar e utilizar uma ou duas vezes um
"modelo", mas a partir disso, vejo a necessidade de trabalhar na
criação de projetos de forma coletiva, principalmente com seus alunos. Se
projetar é sonhar, fica, então, a pergunta: Como poderei realizar
"sonhos" de terceiros?
Referências:
Disponível
em:<http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0084.asp>. Acesso em: 11 Abril de 2015
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